


Chegou às nossas salas de cinema mais uma mega-produção americana com o carimbo de realização de Michael Bay, perito em filmes "flashy", campeões de bilheteira. O realizador americano já tem no curriculum Bad Boys [1995], The Rock[1996], Armageddon [1998] e Pearl Harbour[2001]. Pode dizer-se que o ex-realizador de videoclips tem um estilo próprio dentro da categoria 'cinema de acção': privilegia o argumento simples, personagens pouco densas, e muita energia, explosões, capotamentos de viaturas, tudo muito, muito rápido, como se de um flash ininterrupto de imagens o filme se tratasse...
É claro que, por vezes, sabe muito bem ver um puro filme de "entretenimento". Sabe muito bem ver aqueles 'clássicos séries B'. O problema é que os filmes de acção de hoje já pouco ou nada satisfazem - as ideias estão gastas e temos sempre o 'feeling' de que "já vimos aquela cena em qualquer lado...". Por isso é que quando "The Matrix" [1999] surgiu, uma revigorante lufada de ar fresco 'ventilou' a memória cinematográfica das pessoas que redescobriram as potencialidades do filme de acção e ficção científica. Era diferente, interessante e, sobretudo, divertia.
Infelizmente, "The Island" [2005] confirma as expectativas que um espectador regular de cinema tem quanto a uma mega-produção americana: as de que "pode" eventualmente ser mais um filme igual a tantos outros.
Aspectos positivos do filme: Cenas de acção bem feitas, embora sempre em 'ritmo de flash' constante que enerva e cansa. Se pudesse, aconselharia Michael Bay a rever as sequências de acção que podemos encontrar em "Heat" [1995] de Michael Mann - perceberia logo que 'quantidade' não é sinónimo de 'qualidade'.
Aspectos negativos: o filme tem duas partes - antes e depois da fuga de Lincoln Six-Echo ( Ewan McGregor) e Jordan Two-Delta (Scarlett Johansson) da sociedade "controlada" em que vivem.
Na primeira parte domina a caracterização das personagens, cenários e guarda-roupa dentro de um «espaço» atentamente vigiado, em que todas as acções humanas são medidas, perante a passividade e ausência de interrogações dos habitantes que se movem como se de meros robôs se tratassem. Lembrei-me imediatamente de duas referências (uma literária e outra cinematográfica) que tão bem exploram o tema subjacente ao filme - "O Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley e "THX 1138" de George Lucas. Não sendo sequer comparável, "The Island" 'toca de raspão' em temáticas interessantes como a liberdade ( que se manifesta através da inquietude pelo conhecimento, pela realização pessoal e social) vs. opressão/totalitarismo ( evidenciando o Sistema, o Poder, os determinismos que sempre estão presentes numa sociedade organizada). É claro que tudo isto é muito interessante e pode dar 'pano para mangas' numa reflexão mais cuidadosa - o objectivo "cinematográfico" em 'The Island' nunca poderia ser esse. Mas tão pouco Michael Bay explora as potencialidades que a história que conta possui. A abordagem é artificial e superficial demais para além de, mais uma vez, não ser novidade.
Na segunda parte do filme, tudo vem por ali abaixo num desnorte de cenas previsíveis que só contribuiram para que chegasse ao final com uma desagradável dor de cabeça.
Não se recomenda!
http://www.theisland-themovie.com/